Nome não é brincadeira

Não faltam oficinas com nomes hilários e donos bem-humorados que não temem os obstáculos para o sucesso do negócio. OS! consultou especialistas em marketing e revela que o ideal é preferir nomes que sugiram ideias de valor e qualidade na prestação do serviço.
Por Aladim Gonçalves – Fotos Mario Villaescusa

Até o final da década de 80, as pequenas oficinas de bairro conseguiam sobreviver de sua clientela e da relação de confiança com a vizinhança. Um exemplo é a Oficina do Pezinho e do Pezão, no interior de São Paulo, ou a oficina Mão de Onça, em Petrolina, Pernambuco. Os tempos mudaram, os carros agora usam e abusam da eletrônica, e o reparador teve que se profissionalizar para não ficar de fora do mercado. A recomendação de uma oficina por um amigo ou vizinho ainda tem seu valor, mas e se o nome soar um pouco estranho? Afinal, a oficina já não é mais uma simples garagem onde o mecânico experiente faz funcionar seu negócio. Limpeza, organização, bom atendimento ao público (inclusive feminino), descarte correto de resíduos como frascos e óleo, treinamento de equipe e sistemas eletrônicos de diagnóstico são apenas parte do que se espera encontrar numa oficina atual. Se o preço ainda for bom, então nem se fala.

Iza Corrêa Professora da ESPM

Agora imagine uma oficina impecável, bem equipada e com mecânicos qualificados, mas com um nome esdrúxulo ou uma fachada que não representa bem o seu padrão de qualidade de serviço. Características assim dificultam a atração e conquista de novos consumidores, principalmente aqueles mais desconfiados. Para Iza Corrêa, professora do curso Gestão de Concessionárias Automotivas da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), as oficinas antigas do tipo “quebra-galho” não têm mais espaço no mercado de reparação automotiva. Resultado da modernização e da sofisticação dos componentes mecânicos dos veículos atuais. De acordo com ela, uma oficina até pode ter um nome ousado, engraçado, mas isso significa um risco a mais para administrar e pode soar como algo duvidoso para o cliente. “As oficinas mais antigas até podiam fazer brincadeiras com o nome, desde que atendessem às demandas do setor. Já para sobreviver no mercado atual precisaram se profissionalizar e modernizar”, destaca. Os pontos que precisaram de mais melhorias nos últimos anos foram atendimento, treinamento e equipamentos.

Ainda segundo a professora da ESPM, o dono de oficina pode estruturar seu negócio de uma maneira mais profissional integrando o nome a um sistema credenciado ou autorizado de serviços, representando uma marca ou bandeira importante do mercado. “Não é uma regra, mas é sempre interessante pesquisar antes de escolher qualquer nome. O ideal é procurar referências que agreguem valor e qualidade à prestação de serviço.” Independentemente do nome, a professora diz que as oficinas independentes têm o diferencial da proximidade e relacionamento mais pessoal com o cliente, o que até as montadoras estão copiando agora. “É o caso da General Motors, que resolveu investir na relação direta do consumidor com o mecânico por meio da concessionária (programa “Novo Serviço Chevrolet”). Toda a parte de agendamento do serviço é realizada pelo cliente diretamente com o mecânico, ou seja, é o resgate da relação de confiança entre o dono do carro e a pessoa que o conserta.”

Com nome de super-herói

Bruno Quinalato Dono da Oficina Shazan

De acordo com os números do Sinderepa-SP (Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios), só na cidade de São Paulo há mais de 6 mil oficinas de veículos. Boa parte são estabelecimentos antigos onde o nome parece pesar menos que a tradição do empreendimento. É no acredita Bruno Quinelato, 28 anos, que administra a Shazan Serviços Automotivos, em Pirituba, São Paulo. A oficina existe há 37 anos e foi aberta pelo pai, fã do programa de televisão em que um jovem franzino gritava a palavra mágica “Shazan” e se transformava em um super-herói com força descomunal. “No início eu achava o nome da oficina engraçado, tinha até um pouco de vergonha, mas hoje acho que isso ajuda na divulgação”, explica Quinelato. S Shazan virou uma marca forte na região, ele concorda que se deve aos investimentos constantes em modernização e atualização tecnológica. Bruno Quinelato diz que a oficina é pioneira em injeção eletrônica e oferece mais de 15 serviços automotivos, incluindo manutenção e conservação (lavagem, polimento e cristalização). “Todos os detalhes são importantes, desde a limpeza da oficina até a organização das ferramentas”, completa.

Outra oficina que se baseia na tradição do negócio e parece dar pouca importância ao potencial de um bom nome ou marca de centro de serviços é o Centro Automotivo e Elétrica Barboza e Filho, também de São Paulo. Estabelecida há mais de 25 anos no mesmo local e com boa estrutura de ferramental e formação profissional – incluindo certificação Delphi para serviços de injeção eletrônica –, a empresa está sempre com o pátio cheio de trabalho. “Não tenho do que me queixar. Nunca perdi um cliente por causa do nome da oficina”, acredita Expedito Barboza, de 48 anos. Para ele, agora é que seria arriscado mudar o nome originado da sociedade montada com o pai na década de 80, levando mais em conta a experiência de uma família de mecânicos que a possibilidade de um nome pomposo.

Em casos como o de Barboza, a professora da ESPM recomenda agregar a bandeira de um centro de serviços credenciado, como Delphi ou Bosch, por exemplo. E lembra: imagem positiva e boa reputação começam a ser construídas antes mesmo da execução do serviço, e podem significar a diferença entre o cliente entrar ou não em sua oficina.

Fonte: Revista OS! Ordem de Serviço – Edição n] 3 – março/abril 2011

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